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O último judeu do Afeganistão abandonou Cabul: e o último católico?

O último judeu do Afeganistão

Nasim Fekrat, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons

Zablon Simintov ou Zebulon Simentov, o último judeu do Afeganistão

Francisco Vêneto - publicado em 13/09/21

A comunidade católica afegã é muito menor do que foi a comunidade judaica antes do êxodo

Zebulon Simentov, o último judeu do Afeganistão, resistiu à ocupação soviética, aos intermináveis conflitos internos violentos, aos caóticos anos de instabilidade em todos os níveis da sociedade afegã, ao primeiro e brutal regime talibã e aos vinte anos de idas e vindas sob a ocupação norte-americana.

Agora, porém, a ameaça de fortalecimento da facção local do bando fanático Estado Islâmico, num Afeganistão novamente em mãos dos também fanáticos talibãs, parece ter imposto um ponto final à resiliente permanência do último representante de uma comunidade que já chegou a somar dezenas de milhares de membros.

Simentov declarou que até estaria disposto a suportar mais um regime fundamentalista dos talibãs, mas foi convencido pelos amigos a sair do país devido aos altos riscos representados pela sanguinária facção local do Estado Islâmico.

Um desses amigos que influenciaram a difícil decisão de Simentov foi o empresário Moti Kahana, cidadão israelense e norte-americano que atua no setor da segurança. Kahana chegou a falar até dez vezes por dia com Simentov, com a ajuda de um vizinho que traduzia os seus argumentos. Outros vizinhos também pressionaram Simentov a aceitar fugir, já que, se ele saísse do país, eles conseguiriam colocar alguns filhos e familiares no mesmo ônibus, como de fato acabou ocorrendo.

O último judeu do Afeganistão

A comunidade judaica do Afeganistão começou o seu êxodo em 1948, já que o Estado de Israel, então recém-fundado, dava cidadania automática a todos os que comprovassem ser judeus. Com a ocupação soviética do Afeganistão na década de 1980, o êxodo se intensificou: foi nessa época que a maioria das famílias judaicas deixou o país da Ásia Central. A implantação do primeiro regime talibã em 1996 foi a gota d’água para o restante da comunidade.

Foi quando sobraram dois judeus em todo o Afeganistão: Zebulon Simentov e Isaak Levi.

A propósito: o nome de Zebulon Simentov também pode ser transcrito em caracteres latinos como Zablon Simintov ou Zevulun Simantov, a depender dos critérios de cada fonte.

O caso é que os dois últimos remanescentes da comunidade judaica de Cabul dividiam um apartamento que também funcionava como sinagoga, mas era público e notório que não se suportavam nem faziam qualquer questão de esconder suas desavenças. Seus atritos chegaram a tal grau que os próprios talibãs intervieram para contê-los: prenderam os dois, espancaram-nos e confiscaram deles um rolo de Torá muito antigo e valiosíssimo, que acabou desaparecendo para nunca mais ser reencontrado.

Simentov demonstrou explicitamente a sua satisfação quando Levi morreu em 2005, já sob a ocupação norte-americana. Ele se tornava assim o único e último judeu do Afeganistão.

Desde setembro de 2021, não resta mais nenhum.

E o último católico?

Cabe agora perguntar também sobre o destino dos católicos do país.

A comunidade católica afegã é muito menor do que foi a comunidade judaica antes do êxodo: até a queda do governo republicano em 15 de agosto e a nova ascensão dos talibãs em Cabul, havia em todo o país cerca de 200 católicos, praticamente todos vivendo na capital. A única igreja católica do país inteiro também ficava em Cabul, dentro das instalações da embaixada italiana: a paróquia de Nossa Senhora da Divina Providência.

O responsável pela paróquia era o pe. Giovanni Scalese, missionário italiano, membro da congregação dos clérigos regulares de São Paulo, conhecidos como barnabitas. Ele era também o superior da missão católica no Afeganistão.

No final de agosto, esgotando-se o prazo para a evacuação dos estrangeiros, o padre se viu forçado a embarcar em um dos últimos voos militares ocidentais, junto com cinco religiosas da congregação da Santa Madre Teresa de Calcutá e 14 crianças deficientes que residiam no orfanato mantido pela Igreja em Cabul. Havia mais de 60 crianças no centro de atendimento para pessoas deficientes que a Igreja mantinha na cidade desde 2006. As outras crianças, infelizmente, tiveram de permanecer no país. Seu futuro, assim como o do seu povo e o dos católicos no Afeganistão, é incerto.

O pe. Giovanni espera voltar um dia ao país e retomar o trabalho da Igreja junto àquele povo tão sofrido. Neste momento, porém, este é um cenário que não se vislumbra no horizonte.

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CatólicosCristianismoIdeologiaMuçulmanosPerseguiçãoPolíticaReligião
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