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Abusos sexuais na Igreja na França: um relatório esmagadoramente trágico

Abusos Sexuais na Igreja na França

THOMAS COEX / POOL / AFP

Dom Éric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal Francesa, solicitou as investigações

Francisco Vêneto - publicado em 05/10/21

Criminosos dentro da Igreja poderiam ter perpetrado 330 mil abusos sexuais contra menores desde 1950 até 2020

A Comissão Independente sobre Abusos na Igreja Católica na França (CIASE) publicou um relatório nada menos que trágico sobre os crimes hediondos de abusos sexuais perpetrados por bandidos dentro da Igreja Católica no país, contra vítimas menores de idade, desde 1950 até 2020.

Os números são devastadores. Uma aberrante multidão de 330 mil menores de idade pode ter sofrido abusos perpetrados por padres criminosos, religiosos criminosos e leigos católicos criminosos ao longo destes 70 anos.

A vasta pesquisa que culminou no relatório final foi solicitada por dom Éric de Moulins-Beaufort, arcebispo de Reims e presidente da Conferência Episcopal Francesa. Ao divulgar o documento, dom Éric pediu desculpas às vítimas e afirmou que o relatório deve corroborar a coragem das autoridades da Igreja Católica dispostas a combater esta descomunal ignomínia.

Segundo o levantamento da CIASE, 260 mil menores teriam sido vítimas de abusos sexuais por parte de padres ou religiosos no período investigado, cifra que sobe para 330 mil ao se incluírem os abusos cometidos também por leigos católicos dentro de ambientes ligados à Igreja.

No tocante aos bandidos, o relatório estima “no mínimo” 2.900 religiosos ou padres envolvidos em diversos tipos de abuso sexual, número que pode chegar a 3.200 criminosos. Trata-se de 3% do total das pessoas consagradas na França. A grande maioria dos criminosos identificados já morreu.

Os responsáveis pelo relatório

A iniciativa de solicitar um relatório independente, abrangente e isento sobre a realidade dos abusos sexuais na Igreja na França veio do episcopado francês encabeçado pelo arcebispo dom Éric de Moulins-Beaufort.

Para a realização da tarefa, dom Éric confiou a gestão dos trabalhos a Jean-Marc Sauvé, que, portanto, é o responsável geral pela comissão que realizou as investigações. Sauvé é ex-vice-presidente do Conselho de Estado da França.

Para formar a CIASE, ele convocou 21 especialistas em Direito, Psicologia, Serviço Social e Teologia, garantindo que o grupo fosse composto por pessoas de diferentes religiões, inclusive ateus e agnósticos.

Os trabalhos de investigação foram realizados ao longo de 32 meses.

Entre junho de 2019 e 31 de outubro de 2020, a CIASE recebeu mais de 6.500 comunicações, entre ligações telefônicas e e-mails, com depoimentos sobre abusos sexuais. A comissão ainda realizou 250 entrevistas.

56% das agressões registradas foram cometidas entre 1950 e 1969. Nas décadas de 1970 e 1980, o percentual caiu para cerca de 22%, patamar mantido até 2020.

Destaques do relatório

Aprovado por consenso, o documento final contém 2.480 páginas.

Além da impunidade da grande maioria dos bandidos abusadores de menores, o relatório destaca que, até o começo da década de 2000, preponderava “uma indiferença profunda e cruel para com as vítimas: elas não eram escutadas porque não se acreditava nelas”.

Estas palavras são do próprio Jean-Marc Sauvé, que, sem panos quentes, vai ainda mais fundo ao resumir o panorama descoberto:

“São crimes contra a humanidade”.

Sauvé acrescenta que a Igreja deve proporcionar não só uma reparação moral às vítimas, mas também uma reparação econômica.

Analisando o conteúdo exposto pelas investigações, dom Éric Moulins-Beaufort destacou:

“O alcance deste fenômeno de violência sexual e agressão na sociedade e na Igreja é assustador”.

“É verdadeiramente insuportável que tantas vidas de crianças e jovens tenham sido agredidas sem que nada fosse visto, denunciado, acompanhado ou cuidado”.

“Medimos a força interior e a coragem de quem denunciou a violência e as agressões sofridas e percebemos a quantidade de pessoas que não puderam falar, não podem ou não querem falar”.

“Expresso a minha vergonha e a minha determinação de agir para que a recusa em ver, ouvir ou a vontade de ocultar os fatos, a dificuldade de denunciá-los publicamente, desapareçam das atitudes das autoridades eclesiais, dos sacerdotes e dos agentes pastorais, assim como de todos os fiéis”.

“Desejo pedir perdão”.

“[Isto] nos obriga a nos examinarmos mais do que nunca para verificar o menor dos nossos comportamentos”.

“O alcance do fenômeno da violência e da agressão sexual descoberto hoje pela comissão criada pelos bispos da França e pelos superiores religiosos revela que todas as relações estruturantes da humanidade podem ser desviadas e transformadas em relações predatórias, numa proporção que não pode ser considerada insignificante”.

“Não renunciemos nunca à clareza. Não nos resignemos nunca à ambiguidade”.

Segundo o porta-voz vaticano Matteo Bruni, o Papa Francisco “dirige seu pensamento primeiramente às vítimas, com grande tristeza pelas suas feridas e com gratidão pela sua coragem em denunciar”. Ainda de acordo com o porta-voz, o Papa também pensa “na Igreja na França, para que, consciente desta terrível realidade, unida ao sofrimento do Senhor pelos seus filhos mais vulneráveis, empreenda um caminho de redenção”.

A enormidade deste drama se torna ainda mais clamorosa ao se considerar uma das mais significativas informações expostas pelo relatório: a Igreja Católica foi o terceiro ambiente em que mais abusos sexuais foram cometidos na França. Antes dela vêm outros dois ambientes que são os que mais deveriam proteger os pequenos: os círculos de amigos próximos e a própria família.

Tags:
Abusos SexuaisIgrejaPadresViolência
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