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Quando a inflação dispara, os patrões têm a obrigação moral de aumentar os salários?

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INFLATION

SERSOLL|Shutterstock

Zelda Caldwell - publicado em 04/04/22

Especialistas em ética empresarial e ensino social católico alertam sobre a forma como os empregadores devem tratar os funcionários - nos bons e maus momentos

A inflação tem subido em muitos países, inclusive nos mais ricos e desenvolvidos. Os preços do gás, dos combustíveis, alimentos e outros itens essenciais dispararam. Com isso, muitas famílias descobriram que, com seus salários, não conseguem mais comprar o que adquiriam antes.

O que a Doutrina Social da Igreja nos diz

O mercado de trabalho apertado por causa da crise gerada pela pandemia levou muitos empregadores a aumentar os salários para reter e atrair profissionais. Porém, a grande maioria dos empregados não teve aumentos significativos o suficiente para compensar os efeitos da inflação.

A Doutrina Social da Igreja Católica promove o florescimento humano como resultado desejado dos assuntos sociais, econômicos e políticos. Isso significa que os empregadores são moralmente obrigados a aumentar os salários de seus funcionários para que as remunerações acompanhem os preços mais altos? 

Não é tão simples assim, dizem especialistas em ética empresarial de duas importantes escolas católicas de administração.

Andreas Widmer, diretor do Arthur & Carlyse Ciocca Center for Principled Entrepreneurship da Busch School of Business da Universidade Católica da América, diz que um aumento na inflação não exige necessariamente um aumento nos salários. 

“O ensino social católico não é como os Dez Mandamentos. Os Dez Mandamentos dizem o que você deve fazer. A doutrina social católica não diz o que fazer, diz como pensar”, explicou ele à Aleteia.

Widmer explica que o ensino social católico é como um “modelo mental” que ajuda as pessoas a pensar sobre o “objetivo final das coisas e formar uma consciência cristã acerca do que se fazer”.

“O ensino social católico não é um livro de gestão pintado por números. Ele forma seu pensamento, então você tem uma consciência bem alicerçada para agir no momento. Acho que há muito pouco material prescritivo no ensino social católico de propósito”, argumentou Widmer.

Segundo o especialista, embora as empresas ajustem os salários de acordo com a inflação, pelos ensinamentos da Igreja, elas não são obrigadas a fazê-lo se isso colocar em risco a própria saúde dos negócios.

“Faça aos seus empregados o que você gostaria que seu empregador fizesse a você. Porque você sabe o que é capaz de fazer e o que não é, e deve agir de acordo com isso. É como dar o dízimo: você não dá uma quantia específica, você dá o que pode”, disse Widmer.

Por outro lado, “se os lucros de uma empresa subirem repentinamente por causa da escassez de coisas, acho que há uma obrigação moral de premiar, compensar e incluir os funcionários que ajudam você a criar esse valor, a fim de compartilhar adequadamente as recompensas com eles”, afirmou.

Ronald Jelinek, professor da Providence College’s School of Business, concorda. Os empregadores devem considerar a inflação ao determinar os aumentos salariais, assumindo a “boa saúde financeira e viabilidade do empregador”.

“Não faz bem a ninguém – o empregado, o cliente, o acionista, os fornecedores da empresa – se, aumentando os salários, o empregador se suicida. Ninguém continua recebendo leite de uma vaca morta”, disse Jelinek.

O que é um salário justo?

O ensino social católico, disse Jelinek, fornece “duas medidas” para determinar qual é o tratamento “justo” de um funcionário.

“Primeiro, como o Papa João Paulo II informa em Centisimus Annus: ‘O salário deve ser suficiente para manter o operário e a sua família'”.

“Contudo, o Papa Pio XI oferece a outra baliza na Quadragesimo Anno: ‘Na determinação do valor do salário, deve-se levar em conta também a condição de uma empresa e de quem a exerce; pois seria injusto exigir salários excessivos que uma empresa não pode suportar sem sua ruína e, consequente, calamidade para os trabalhadores.’”

Jelinek explicou ainda que, em alguns casos de inflação em alta acentuada, “o salário justo de ontem não se torna mais juto hoje”. Isso porque a inflação também afeta as empresas e os empregadores. Quando os preços estão subindo para os consumidores, os custos tendem a aumentar para as empresas.

“Para tornar as coisas mais difíceis, em alguns setores da economia, há indústrias em que os custos estão subindo, mas as receitas não, porque essas empresas não conseguem vender seus produtos. A atual crise da cadeia de suprimentos torna isso evidente – desde carros (que os fabricantes globais não podem vender porque estão esperando por chips produzidos no exterior) até pequenas empresas (que não podem vender portas de vidro porque não há dobradiças de metal no mercado). É difícil pagar a mais aos empregados quando os empregadores não conseguem vender”, elucidou o especialista.

Jelinek aconselha os empregadores a considerar que “tempos difíceis exigem funcionários robustos e empregadores robustos”.

“A referência do Papa Leão XIII ao ‘frugal e bem-comportado’ é uma boa recomendação tanto para o assalariado quanto para o empregador. E embora este princípio seja testado em tempos difíceis, é importante que seja praticado também em tempos bons. Acho que é um sinal para ser prudente sempre. Afaste-se do excesso. Economize. E essas regras se aplicam a empregadores, funcionários e ao acordo que os vincula”, disse ele.

“Afinal, o ensino social católico enfatiza que o espírito cooperativo está no centro de uma relação funcionário-empregador saudável e duradoura. Assim, tanto os funcionários quanto os empregadores são solicitados a discernir prudencialmente qual é sua obrigação um para com o outro – em tempos bons e em tempos mais difíceis também”, disse ele.

Lista de leitura para o empregador católico

Para melhor formar a consciência, Jelinek sugere que todo empregador católico leia as seguintes encíclicas papais: 

Rerum Novarum

Quadragesimo Anno

Centesimus Annus

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