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A Cruz Vermelha foi inspirada por São Camilo de Léllis?

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São Camilo de Léllis e sua relação com a Cruz Vermelha

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São Camilo de Léllis

Francisco Vêneto - publicado em 14/07/22

O santo católico usava uma cruz vermelha ao ajudar os soldados feridos em batalha. Mas qual é sua relação com a Cruz Vermelha Internacional?

A Cruz Vermelha foi inspirada por São Camilo de Léllis? Os pontos em comum são chamativos.

De fato, o santo padroeiro dos doentes, dos profissionais da saúde e dos hospitais fundou a Ordem dos Ministros dos Enfermos muito antes da criação da Cruz Vermelha, e seus religiosos, conhecidos como camilianos, se tornaram apóstolos da caridade de Cristo num dos cenários mais angustiantes da existência humana neste mundo: o da enfermidade.

Camilo nasceu em 1550 em Bucchianico, na Itália. Aos 17 anos, voluntariou-se no exército veneziano e, junto às tropas, testemunhou o drama dos enfermos que agonizavam diante das mais diversas e torturantes doenças. Ele próprio, nessa mesma época, passou a conviver com uma dolorosa úlcera no pé – que o acompanharia até o último dia de sua vida. Para aumentar as angústias, o jovem ainda sofreu nesse período a perda do pai. Sua vida então mudou drasticamente: Camilo enveredou pelos prazeres mundanos, inclusive o da jogatina, em que acabou se viciando.

Sem dinheiro nem saúde, ele não conseguia local para tratar-se. Partiu para Roma a fim de pedir socorro no Hospital Santiago: não tendo dinheiro, ofereceu-se para trabalhar como servente e enfermeiro. Mal cicatrizada a ferida, voltou a se juntar ao exército para combater os turcos otomanos, que, na época, estavam tentado expandir-se em direção à Europa ocidental.

Recuperação e… queda pior ainda

Aos 23 anos, já quase restabelecido economicamente, Camilo voltou a cair nos vícios mundanos e no jogo até perder tudo. Retornou a Nápoles e prometeu tornar-se religioso franciscano, voto que já tinha esquecido no ano seguinte, quando… estava novamente mergulhado na jogatina.

O jogo e a bebida eram vícios que o derrubavam com força brutal. Camilo, na miséria, partiu para Veneza. O frio, a fome e a indigência de quem sequer tinha teto para dormir não eram suficientes para afastá-lo do maldito vício: em mais uma das suas muitas derrotas no jogo, o rapaz teve de entregar como pagamento a própria camisa.

Dos abismos da miséria às alturas da misericórdia

Depois de muito perambular pelas ruas do mundo, Camilo conseguiu abrigo no convento dos capuchinhos. Foi quando, finalmente, começou de verdade a se converter.

As pregações iam pouco a pouco transformando o seu coração até levá-lo a se reconhecer como pecador necessitado com urgência da misericórdia de Deus. Ele ingressou na ordem dos capuchinhos, mas não pôde fazer a profissão dos votos religiosos por causa da enfermidade na perna. Dedicou-se então, no hospital de San Giacomo, a cuidar dos doentes – e chegou a ser superintendente do hospital.

Golpeado pelas dolorosas necessidades do próximo, Camilo fundou uma associação de pessoas dispostas a se consagrarem por caridade ao serviço dos doentes. Aos 32 anos, voltou aos estudos, sob o acompanhamento de ninguém menos que São Felipe Neri, e, aos 34, pôde enfim receber as ordens sagradas como sacerdote.

A Ordem dos Ministros dos Enfermos

São Camilo de Lellis

A partir de então, o padre Camilo iniciou a Ordem dos Ministros dos Enfermos, junto com dois companheiros que, todos os dias, cuidavam dos doentes no Hospital do Espírito Santo. Sua motivação brotava do fato de enxergar neles o próprio Cristo. Além de tratá-los na dimensão física, procuravam também aproximá-los dos sacramentos, cuidando assim da sua alma.

Com o tempo, o serviço da congregação foi se ampliando. Os camilianos assumiram a missão de atender os prisioneiros doentes e os convalescentes em casas particulares. São Camilo passou ainda a enviar religiosos com as tropas do exército a fim de atenderem os soldados feridos.

Muitos religiosos morreram no cumprimento dessa missão sacrificada – alguns, inclusive, atingidos pela peste. São Camilo e seus irmãos, apesar disso, prosseguiram heroicamente. E prosseguem até hoje: os camilianos fundaram e mantêm uma grande quantidade de hospitais em vários países, inclusive em regiões nas quais, sem eles, o atendimento à saúde dos mais pobres estaria severamente comprometido – ou mesmo ausente.

E a Cruz Vermelha?

Mas será que existe mesmo uma relação direta entre a Cruz Vermelha Internacional e São Camilo de Léllis?

Embora os camilianos fossem vistos com frequência nos campos de batalha, a sua ordem não era grande o suficiente para acompanhar todos os exércitos. Isto significava que cada país tinha símbolos diferentes para representar os seus serviços médicos militares. Em meados do século XIX, ao ver essa discrepância e o aumento dos feridos, o suíço Henry Dunant propôs melhorias para ajudar a aliviar a situação.

Em 1862, ele propôs criar, “em tempo de paz e em todos os países, grupos voluntários para cuidar das baixas em tempo de guerra; fazer com que os países concordem em proteger os voluntários de primeiros socorros e os feridos no campo de batalha”.

Um comitê se reuniu em 1863 para considerar suas propostas e “adotar um único símbolo distintivo respaldado pela lei para indicar respeito aos serviços médicos do exército, voluntários de sociedades de primeiros socorros e vítimas de conflitos armados. O símbolo precisava ser simples, identificável à distância, conhecido por todos e idêntico para amigo e inimigo. O emblema tinha que ser o mesmo para todos e universalmente reconhecível”.

Em 1864, a Primeira Convenção de Genebra aprovou a cruz vermelha sobre fundo branco como símbolo facilmente identificável. O símbolo inspirou-se mais na bandeira nacional da Suíça do que em São Camilo de Léllis.

De fato, a Cruz Vermelha Internacional sustenta que, “como o emblema deveria refletir a neutralidade dos serviços médicos das forças armadas e a proteção que lhes é conferida, o emblema adotado foi formado pela inversão das cores da bandeira suíça”.

Além disso, como o branco é tradicionalmente conhecido como símbolo de rendição, essa cor seria respeitada nos campos de batalha.

Por estas razões, muito embora a Cruz Vermelha e os camilianos tenham emblemas semelhantes e missões quase idênticas, a sua inspiração difere substancialmente.

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