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O que é a “seita Moon”, citada na investigação do assassinato do ex-premiê do Japão

Casamento coletivo da Seita Moon ou Igreja da Unificação

JUNG YEON-JE / AFP

Casamento coletivo da "seita Moon" ou Igreja da Unificação, na Coreia do Sul, em 2016

Francisco Vêneto - publicado em 14/07/22

Um ex-arcebispo católico protagonizou escândalo há 20 anos ao aderir a essa organização e se casar com uma adepta

A assim chamada “seita Moon” tem sido citada abundantemente pela mídia no contexto das investigações sobre o assassinato do ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, atingido por tiros na última sexta-feira, 8, durante um comício.

Nesta segunda-feira, 11, a própria organização religiosa confirmou que a mãe do acusado faz parte dos seus quadros. Segundo informações da polícia japonesa, o assassino Tetsuya Yamagami, de 41 anos, planejou matar Shinzo Abe como forma de vingança contra a Igreja da Unificação, nome oficial do polêmico movimento religioso de origem coreana.

Mas o que é a Igreja da Unificação, também conhecida como “seita Moon”, e qual é a sua relação com autoridades políticas?

O fundador

A organização foi criada por Sun Myung Moon (1920-2012), filho de agricultores nascido em território da atual Coreia do Norte. Ele afirmava ter tido, aos 15 anos, uma visão em que Jesus lhe pedia continuar a sua missão no mundo, a fim de que a humanidade atingisse o estado de purificação e se livrasse do pecado.

A fundação

Em 1954, ele fundou uma igreja em Seul e não tardou em adotar um viés político explicitamente anticomunista, o que lhe granjeou a simpatia do regime militar da Coreia do Sul, visceralmente oposto ao regime comunista do Norte.

Graças a esse viés, o novo líder religioso conseguiu acesso não só a políticos sul-coreanos, mas também a chefes de Estado estrangeiros da importância do próprio presidente norte-americano Richard Nixon, a quem prestou apoio durante o escândalo Watergate.

O crescimento

A Igreja da Unificação foi se tornando um império econômico atuante em setores como a mídia, a construção, o turismo e até as indústrias alimentícia e automobilística, transformando o fundador em bilionário.

No tocante aos membros, o grupo se expandiu principalmente para o Japão e os Estados Unidos, mas, na década de 1980, experimentou relevante crescimento também na América Latina, em particular no Brasil. De fato, o grupo chegou a comprar grandes propriedades no Estado de Mato Grosso do Sul para construir uma espécie de cidade própria.

A prisão

O fundador, que veio a ser conhecido como Reverendo Moon, havia dado início às suas turnês mundiais em 1965. Na década de 1970, instalou-se nos Estados Unidos e, acusado de sonegação fiscal, foi condenado e esteve preso durante mais de um ano ao início da década seguinte.

O caso Milingo

O ex-arcebispo católico Emmanuel Milingo, nascido na Zâmbia em 1930, protagonizou um escândalo de proporções mundiais no final dos anos 90 ao aderir à “seita Moon”. Ele havia sido ordenado padre católico em 1958 e nomeado arcebispo da capital da Zâmbia, Lusaka, em 1969. Em 1973, começou a dedicar-se a sessões de cura e libertação.

Em 2001, anunciou seu casamento com a médica sul-coreana Maria Sung. A cerimônia foi celebrada pelo próprio Reverendo Moon no Hotel Hilton de Nova Iorque.

Meses depois, o polêmico ex-arcebispo foi recebido pelo Papa São João Paulo II, ensaiando um retorno à Igreja Católica. No entanto, Milingo logo reafirmou que Maria Sung continuava sendo sua esposa e passou a liderar um movimento em favor de padres casados.

Em 26 de setembro de 2006, foi excomungado automaticamente (“latae sententiae“) porque “ordenou” como bispos, invalidamente, quatro norte-americanos casados, eles próprios excomungados. Em dezembro de 2009, perdeu definitivamente o estado clerical.

A Igreja da Unificação hoje

Famosa pelos multitudinários casamentos coletivos, a “seita Moon” é atualmente liderada pela viúva do fundador, Hak Ja Han. Trata-se da segunda esposa de Moon.

Em 2012, o grupo declarou possuir três milhões de fiéis, mas estudiosos contestaram o número por avaliá-lo como exagerado.

Desde os anos 80, a influência da “seita Moon” tem diminuído notavelmente, seja devido às aceleradas mudanças políticas e sociais na Coreia do Sul, seja em decorrência de divisões internas, exacerbadas após a morte do fundador em 2012.

Os vínculos com Shinzo Abe

Tetsuya Yamagami, o assassino do ex-primeiro-ministro japonês, declarou que odeia a “seita Moon” e que planejou matar Shinzo Abe por achar que ele mantinha vínculos com a organização. A informação veio da polícia japonesa ainda na sexta-feira do crime.

Segundo Yamagami, a Igreja da Unificação teria obtido vultosas doações de sua mãe, o que deixou a família numa situação financeira muito difícil.

Tomihiro Tanaka, que preside a organização no Japão, confirmou que a mãe de Yamagami entrou na Igreja da Unificação em 1998 e passou a sofrer dificuldades financeiras em 2002. Tanaka, porém, declara não conhecer as causas de tais dificuldades e complementa que “as doações são voluntárias”.

Segundo a Igreja da Unificação no Japão, o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe nunca foi membro nem conselheiro da entidade. Entretanto, outras organizações ligadas ao grupo costumam convidar políticos importantes, frequentemente, para encontros sobre a “paz mundial”. Shinzo Abe chegou a ser criticado por advogados japoneses após ter gravado uma mensagem de vídeo para um evento do gênero.

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