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Eles dizem que se converteram ao cristianismo por causa do… bitcoin

Grupos evangélicos defendem conexão entre cristianismo e bitcoin

Iaremenko Sergii

Francisco Vêneto - publicado em 15/07/22

Tomer Strolight tem 52 anos e afirma que nunca foi religioso - até conhecer a criptomoeda

“Quanto mais eu estudava o bitcoin, mais percebia que este é um sistema incorruptível, que contém justiça embutida em si graças à matemática e à verdade”.

Esta afirmação, de acordo com o site Slate.com, é do canadense Tomer Strolight, que tem 52 anos e afirma que nunca tinha sido religioso – até conhecer o bitcoin.

Tomer, que hoje trabalha dando cursos sobre a criptomoeda, conta que conheceu o bitcoin em 2013 e, desde então, quanto mais o estudava, mais acreditava que a sua criação é fruto de um intelecto superior: “essa genialidade é de Deus”.

A inusitada relação que ele traça entre a criptomoeda e a divindade o levou a receber o batismo, recentemente, numa praia de Miami. Quem o batizou nas águas plácidas de South Beach foi o pastor Patrick Melder, de uma igreja evangélica de Atlanta.

Patrick Melder, por sua vez, é uma espécie de “evangelista do bitcoin”: para ele, a criptomoeda tornará seus adotantes bem-sucedidos e os ajudará a vencer a inflação.

“Graças a Deus pelo bitcoin”

De fato, na manhã daquele mesmo dia do seu batismo, Strolight havia participado de um encontro de pessoas que afirmam ter-se convertido e encontrado a Cristo por meio do bitcoin. O encontro foi uma das iniciativas organizadas durante a primeira conferência anual para “cristãos bitcoiners”, cujo tema foi “Thank God for Bitcoin” – ou “Graças a Deus pelo Bitcoin”. Esse é também o título de um livro cujos autores são os organizadores da conferência.

Entre os participantes, além de pessoas diretamente ligadas ao mundo das transações em criptomoeda e da sua divulgação nas redes sociais, estava o ex-jogador de futebol profissional Tim Tebow, hoje um devoto “evangélico bitcoiner” – uma pequena mostra da variedade de pessoas que estão alegando uma relação entre fé e moeda digital. Aliás, todos os participantes do evento compartilham a alegação de que abraçaram o cristianismo graças ao bitcoin. O pastor Patrick Melder, em seu livro “The Christian Case for Bitcoin“, considera a respeito:

“A adoção do bitcoin se torna uma convicção. Uma convicção baseada na verdade e nos fatos. E, como nossa fé, a convicção nos firmará em tempos de volatilidade ou dúvida”.

“Criptoteologia da prosperidade”

O professor de estudos religiosos Joseph Laycock, da Universidade do Estado do Texas, avalia que não é surpreendente o nascimento de uma comunidade evangélica para a qual o bitcoin tem caráter religioso.

Segundo ele, essa relação entre fé e criptomoeda se caracteriza por elementos do que ele chama de “evangelismo americano paranoico”, marcado por uma visão maniqueísta do mundo como um campo de batalha entre o bem e o mal, assim como pela influência da “teologia da prosperidade”, relativamente comum entre diversas denominações protestantes que argumentam que a riqueza material é sinal da graça de Deus. Dentro da análise de Laycock, os “devotos do bitcoin” enxergariam a criptomoeda como um “dinheiro do bem”, porque, a seu ver, ajudaria a derrotar a corrupção do atual sistema monetário internacional.

Criptoproselitismo

O pastor Patrick Melder está agora levando o “cripto-evangelho” para outros países. Em 2021, por exemplo, ele viajou várias vezes para Panajachel, na Guatemala, a fim de implantar, numa comunidade carente, uma economia circular baseada em bitcoin. Dentro desse projeto, que ele chama de “Bitcoin Lake” (“Lago Bitcoin”), o pastor dá aulas sobre a criptomoeda para crianças, faz acordos com donos de empresas locais para aceitarem o bitcoin como meio de pagamento e atua junto à prefeitura para que o município utilize fontes renováveis de energia elétrica para a mineração de bitcoin.

O nome do projeto de Melder remete à “Bitcoin Beach” (“Praia Bitcoin”), iniciativa de outro pregador evangélico norte-americano, também criada na América Central, mas neste caso em El Salvador. Financiado por um doador anônimo, o projeto também pretende criar uma economia circular baseada em bitcoin. Em 2021, quando o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, anunciou a adoção do bitcoin no país como moeda oficial, ele citou justamente aquela pequena comunidade local como inspiração.

Os casos chamativos de conexão entre vertentes evangélicas de cristianismo e bitcoin são vários e crescentes. Um dos mais notórios é o da autoproclamada Igreja do Bitcoin, fundada em Middlebury, no estado norte-americano de Vermont, pelo desenvolvedor de software Henry Romp, de 30 anos. O jovem chega a declarar que vê algum tipo de relação entre Deus e o misterioso criador do bitcoin, de cuja identidade se conhece apenas o pseudônimo Satoshi Nakamoto:

“Quando Satoshi Nakamoto criou o bitcoin, eu acho que ele foi divinamente inspirado. Eu acho que um Deus benevolente de alguma forma o enviou ao mundo ou enviou a ideia para ele”.

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CristianismoDinheiroReligiãoSociedade
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