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Timor-Leste: o 1.º cardeal de uma jovem nação quase que inteiramente católica

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Dom Virgílio do Carmo da Silva

José Fernando Real, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

I. Media - publicado em 18/08/22

Nem o próprio arcebispo acreditou quando soube que seria criado cardeal

“Quando ouvi a notícia, fiquei tão chocado que quase desmaiei”. Esta foi a reação do Arcebispo Virgílio do Carmo da Silva (de Díli, Timor-Leste ) quando soube que em 27 de agosto, aos 54 anos, se tornaria o primeiro cardeal do Timor-Leste. Com sua criação como cardeal, este pequeno país do Sudeste Asiático que tem 1,3 milhão de habitantes e e cerca de 97% da população declaradamente católica, dá mais um passo em direção ao cenário mundial após uma história turbulenta e recente independência. 

“Estou convencido de que o Papa Francisco não ofereceu isso a mim, Virgílio, mas à Igreja e ao povo de Timor-Leste”, disse o arcebispo em entrevista coletiva um dia após saber de sua nomeação. “O povo e a Igreja do Timor-Leste merecem esta graça e reconhecimento de Deus, num país onde o Evangelho chegou há 500 anos e que celebrou o 20.º aniversário da sua independência a 20 de maio.”

Nascido em 1967 na cidade de Venilale, Virgílio do Carmo da Silva estudou em colégios administrados pela Sociedade de São Francisco de Sales – os Salesianos de Dom Bosco. Ele, então, decidiu ingressar nessa congregação, fazendo sua primeira profissão em 1990 e sua profissão perpétua em 1997. Foi o ordenado sacerdote em 18 de dezembro de 1998. 

Dedicou o primeiro período de sua vida sacerdotal à formação de noviços e à direção de escolas salesianas no Timor-Leste. Entre 2005 a 2007 estudou na Pontifícia Universidade Salesiana de Roma. Em seguida, retornou ao seu país natal e, em 2015, foi eleito superior da inspetoria salesiana do Timor-Leste e da Indonésia. Um ano depois, em 18 de março de 2016, o Papa Francisco o nomeou bispo de Díli, que mais tarde seria elevada à categoria de arquidiocese. Ele se tornou arcebispo em 2019. O futuro cardeal também é vice-presidente da Conferência Episcopal Timorense. 

Em agosto, Dom Virgilio do Carmo da Silva, 54, também se tornará o segundo cardeal mais jovem, depois de Dom Giorgio Marengo, 48 anos.

Um país jovem, católico e próximo da Igreja 

O Timor-Leste é um jovem país insular e com fortes raízes católicas. Do século XVII até 1975, a pequena nação esteve sob o domínio colonial português, o que trouxe o catolicismo à sua população. Declarou independência em 1975, mas logo depois a vizinha Indonésia invadiu o país, levando a muitos anos de violência e conflito entre os militares e grupos separatistas.

A Igreja Católica desempenhou um papel importante durante este período na assistência ao povo timorense, particularmente sob a liderança do Bispo Carlos Ximenes Belo, então Administrador Apostólico de Díli, que condenou abertamente a ocupação pelas forças indonésias e apelou à resistência não violenta. Em 1996, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços, juntamente com o político José Ramos-Horta, que agora é o presidente do país. 

O empurrãozinho de João Paulo II

Em 1989, o Papa João Paulo II fez uma visita controversa ao país, ajudando pela primeira vez a trazer a ocupação indonésia do Timor-Leste para os holofotes. O Pontífice polaco condenou os abusos dos direitos humanos sem nomear explicitamente as forças indonésias, tendo o cuidado de não fazer quaisquer gestos que pudessem afirmar a soberania timorense. O Vaticano apoiou os padres e bispos locais, mantendo-se oficialmente neutro na questão da independência.

Mais de 5.000 fiéis assistiram a uma missa celebrada pelo Arcebispo Virgílio do Carmo da Silva em 2019 para comemorar o 30º aniversário da visita do Papa polonês. Outro bispo disse, na época, que a visita de João Paulo II “foi o momento em que o mundo começou a conhecer a luta timorense pela independência”. 

As Nações Unidas acabaram por patrocinar um referendo sobre a independência que levou à saída das forças indonésias em 1999. A constituição do país, que entrou em vigor em 2002, afirma que “o Estado reconhece e aprecia a participação da Igreja Católica no processo de libertação nacional. ”

Foco na educação e estabilidade no período pós-independência

Este é o contexto em que o arcebispo Virgílio do Carmo da Silva cresceu e vive hoje, enquanto este país ainda frágil e politicamente dividido tenta se firmar como nação independente. Como seus antecessores, ele mantém uma relação estreita com o Estado. 

O Presidente Ramos-Horta e o Primeiro Ministro Taur Matan Ruak foram rápidos em felicitar o arcebispo pela sua criação como cardeal. O Parlamento emitiu um comunicado de felicitações, afirmando tratar-se de um “momento histórico” para o país e fonte de “orgulho para o povo do Timor-Leste”.

Com experiência como educador, o arcebispo Virgílio do Carmo da Silva trabalhou em estreita colaboração com o estado para tentar melhorar a qualidade da educação e as oportunidades educacionais em seu país. Além disso, como o Timor-Leste tem uma população muito jovem, com idade média de 20,8 anos em 2020, o futuro cardeal ressaltou a necessidade de educar e formar os jovens na fé católica.

1ª universidade

Em dezembro de 2021, o prelado timorense inaugurou a primeira universidade católica do país, dedicada a João Paulo II, cumprindo um objetivo de longo prazo da arquidiocese. “A Universidade Católica de Timor deve oferecer uma educação de classe mundial em todas as áreas da atividade humana, inspirada nas tradições intelectuais, morais e espirituais católicas”, disse ele.

Em maio de 2022, o arcebispo Virgílio do Carmo da Silva também esteve presente na renovação de um acordo entre a Igreja e o governo do Timor-Leste, que destina recursos públicos para apoiar os trabalhos e atividades da Igreja. Para o ano de 2022, o governo destinou US$ 15 milhões, 50% dos quais para apoiar objetivos educacionais, de acordo com a UCA News

Apesar da sua estreita relação com o Estado, o arcebispo de Díli também não se esquivou de fazer ouvir a sua voz sobre os processos políticos, que nem sempre foram tranquilos na jovem nação em desenvolvimento. Em relação às eleições de abril de 2022, apelou ao futuro presidente a “cumprir as suas promessas eleitorais para que o povo não perca a confiança” e a “estar próximo do povo não só durante a campanha, mas também durante o mandato, para ele poder conhecer as dificuldades enfrentadas pelos cidadãos.” 

Uma possível visita papal? 

O Papa Francisco tinha programado visitar Timor-Leste, Indonésia e Papua Nova Guiné em setembro de 2020. A viagem nunca foi anunciada oficialmente, mas embora não tenha sido dada nenhuma razão para o cancelamento, a pandemia foi considerada a explicação mais provável.

No entanto, em entrevista à agência de notícias argentina Telam em outubro de 2021, o Papa Francisco disse que queria “liquidar a conta não paga da viagem a Papua Nova Guiné e Timor- -Leste”. No entanto, uma possível viagem a Timor não parece estar na ordem do dia, já que o Papa de 85 anos, debilitado pelo problema do joelho, deverá visitar vários outros países nos próximos meses.

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