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Seria o karma um conceito compatível com o Cristianismo?

BUDA

Shutterstock | Gerardo C.Lerner

Igor Precinoti - publicado em 28/08/23

Curiosamente, este conceito oriental conseguiu influenciar alguns movimentos cristãos. É possível identificar claramente o conceito de karma (no contexto de causa e efeito) dentro da teologia da prosperidade. Entenda:

O conceito de karma é originário das tradições religiosas e filosóficas da Índia, especialmente do hinduísmo e do budismo. O termo “karma” vem do sânscrito e significa “ação”. No hinduísmo, este conceito é uma das leis fundamentais. Ele se refere ao princípio de causa e efeito, onde as ações de um indivíduo, boas ou más, têm consequências futuras.

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No hinduísmo, acredita-se que as consequências das ações podem se manifestar tanto nesta vida como também em vidas futuras, através daquilo que eles entendem como um ciclo de reencarnações.

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Com a expansão dos comércios, a troca de ideias e o contato com as culturas orientais ao longo do tempo, o conceito de karma começou a influenciar o Ocidente. A partir do século XIX, um aumento do interesse no espiritualismo e na filosofia oriental ganhou mais destaque com a tradução de textos religiosos indianos e, ao longo do século XX, vários mestres da Índia migraram para o Ocidente a fim de divulgar suas tradições espirituais. Um icônico exemplo foi a banda Beatles que, durante um tempo, apareceu na mídia com o “Guru” ou líder espiritual Maharishi Mahesh.

No Brasil, o espiritismo, um movimento filosófico-religioso que defende a reencarnação, de alguma maneira, também é influenciado pelo conceito de causa e efeito (karma) para justificar as condições de adversidades que alguns indivíduos adquirem no nascimento ou no decorrer da vida. 

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Com a popularização do movimento da “Nova Era” (segunda metade do século XX), uma variedade de crenças espirituais e filosofias orientais dentre elas o “karma” se popularizou ainda mais na sociedade, sendo também incorporado nas diversas filosofias de autoajuda. Nestes casos, os efeitos e consequências das boas ou más ações não seriam observadas somente em vidas futuras, mas também na vida atual. 

Sob esse prisma, é comum que alguns indivíduos, de maneira muitas vezes cruel, responsabilizem alguém que sofre de câncer, afirmando que sua doença foi causada por sentimentos negativos como tristeza e mágoa, ou ainda, tentam justificar tragédias com preconceitos (“o terremoto aconteceu porque naquele país eles seguem a religião errada”).

Influência

Curiosamente, este conceito oriental conseguiu influenciar alguns movimentos cristãos. É possível identificar claramente o conceito de karma (no contexto de causa e efeito) dentro da teologia da prosperidade: uma doutrina religiosa que enfatiza a crença de que a fé e a prática religiosa podem levar a bênçãos materiais e prosperidade financeira na vida do fiel. Essa teologia tem suas origens nos Estados Unidos e ganhou popularidade em várias partes do mundo.

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Segundo a teologia da prosperidade, uma pessoa de fé que segue as diretrizes de sua igreja e contribua regularmente com suas ofertas, teria bênçãos e prosperidade como retorno a estas ações. Ao contrário, o afastamento e a desobediência a estas práticas levariam a dificuldades financeiras, insucesso nos negócios, desajustes familiares e até doenças. 

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Daí a questão: Mas será que é esta a mensagem de Cristo? Será que Jesus, nos evangelhos, ensina que a vida cristã é uma vida livre de dissabores? Será que Deus impõe pobreza e desajuste familiar àqueles que, por algum motivo, não contribuem com o dízimo? Pelo contrário, Jesus nunca disse “prostre-se a mim e tudo será seu”. Quem afirmou isso foi Satanás (Lucas 4,6-7). As promessas de Jesus não estão neste mundo: “grande é o vosso galardão no céu” (Lucas 6,22-23).

Além disso, seria ingenuidade acreditar que todas as mazelas da vida são decorrentes de erros e pecados anteriores, creditar um acidente aéreo, uma morte por terremoto, um sofrimento devido a uma doença etc. aos pecados e erros do passado é como acreditar que Deus é um ser mimado e rancoroso. Jesus mesmo afirmou que as mazelas e escândalos invariavelmente podem acontecer. “É impossível que não venham os escândalos” (Lucas 17,1-2). O mal físico ou moral é um mistério. Mistério que Deus, no entanto, não quer, mas permite e pode sempre dele tirar bens ainda maiores, segundo Santo Agostinho de Hipona em Enchiridion, 38.

A partir destes exemplos, podemos afirmar que, definitivamente, o Karma não é um conceito contido nos evangelhos e que o ensinamento cristão é bem diferente. Ser cristão não significa que você não terá problemas, mas, antes disso, ser cristão é adquirir ferramentas para enfrentar os problemas. “Pegue sua cruz e vem” (Lucas 9,23).

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Desta forma, pode-se concluir que ser cristão é ter a maturidade de saber que as intempéries da vida invariavelmente vão acontecer (independente se o indivíduo fez boas ou más ações), mas que os ensinamentos de Jesus e os exemplos dos Santos nos darão força e instrumentos para superar estas dificuldades. E quando não for possível superar, o cristianismo nos ensina a ter resiliência: “Ele se afastou deles a uma pequena distância, ajoelhou-se e começou a orar: ‘Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua’” (Lucas 22,41-42). E Ele foi atendido, não no livramento da cruz, mas em algo muito maior: o triunfo sobre a morte, o mal e o pecado (cf. Hebreus 5,7-9). Nenhuma oração nossa é vã!

Com a certeza, a glória divina transcende a este mundo. 

Tags:
EspiritualidadeReligiãoSofrimento
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